A Netflix colocou Pablo Escobar de volta nos holofotes. Morto em dezembro de 1993, aonde quer que o traficante esteja (spoiler: não é o céu), ele provavelmente está contente em ver que, em pleno 2015, seu nome ainda é sinônimo de poder. No livro “Pablo Escobar Meu Pai – As Histórias que Não Deveríamos Saber”, lançado no Brasil em junho desse ano, seu filho, Juan Pablo, vai muito além do que é mostrado na série estrelada por Wagner Moura, retratando, entre outras coisas, como são os detalhes da rotina de uma família com dinheiro virtualmente infinito. Uma coisa é certa: Juan Pablo, que recentemente disse que considera processar a Netflix por ter usado a imagem da família sem consentimento, teve uma infância de dar inveja em muitas crianças, com dinossauros à beira da piscina e uma coleção de motos antes de chegar na puberdade.
A Fazenda Nápoles talvez fosse a síntese da megalomania escobariana. Batizada em homenagem ao pai de Al Capone, que nasceu na cidade italiana de mesmo nome, o local foi cenário de todo tipo de maluquice que o dinheiro podia comprar.
1- Dentro da fazenda havia um zoológico aberto ao público. Em um feriado, era normal que mais de 25 mil famílias fossem até o local, atraídas pelos animais exóticos e pelo fato do passeio ser gratuito. “Gosto que as pessoas pobres possam vir e ver esse espetáculo da natureza”, dizia Pablo.
2- Em uma das entradas do zoológico, havia um carro cheio de pequenos buracos. O veículo era resultado de uma fusão orquestrada por Pablo: o chassi da caminhonete do veículo que seu irmão Fernando dirigia quando se envolveu no acidente que o matouunido à carroceria de um Ford 1936. Depois que o carro ficou pronto, Pablo e seus homens metralharam o veículo meticulosamente para que ele tivesse os mesmos 167 furos de bala do carro em que Bonnie e Clyde morreram – Pablo era fã do lendário casal de assaltantes americanos e, no livro, Juan diz que assistiu ao lado do pai todos os filmes que Hollywood já produziu sobre eles.
3- Muitos anos antes de Steven Speilberg lançar Jurassic Park, Pablo mandou construir diversas réplicas de dinossauros em tamanho real e as espalhou pela fazenda. Algumas das enormes esculturas feitas de cimento pintado em cores vivas chegaram a ser danificadas em uma busca policial que suspeitou que o seu interior pudesse ocultar drogas ou dólares.
4- Em 1983 a fazenda serviu de locação para um comercial do refrigerante Naranja Postobón – aos 45 segundos Juan aparece de camiseta listrada com uma câmera na mão.
5- Um belo dia Pablo resolveu se tornar sócio do Clube Campestre de Medellín, prestigiosa entidade que reunia os poderosos da cidade colombiana. Acontece que a diretoria do clube vetou sua entrada: por mais rico que fosse, Pablo não pertencia a uma família tradicional. A essa altura do campeonato é provável que o colombiano nem se lembrasse mais como era ser contrariado, então ele entrou em contato com alguns dos funcionários do clube e lhes ofereceu uma grande quantidade de dinheiro para que eles entrassem em greve. “Foi a primeira e talvez a única vez que o clube metido a besta fechou as portas por vários dias”, escreveu Juan. Depois de pedir para que a greve fosse prolongada, Pablo pagou uma quantia extra para que esses funcionários passeassem com um caminhão lotado de terra pelo campo de golfe do clube. Depois de deixar o gramado impraticável, a instrução era jogar a terra toda na piscina. Muito bem remunerados, os funcionários não titubearam.
6- Aos quatro anos de idade, Juan ganhou sua primeira moto: uma Suzuki amarela. Pablo mandou instalar rodinhas nas laterais e foi ensinando o filho diariamente até o momento em que elas não eram mais necessárias, na cena clássica do pai que larga o assento da bicicleta e vê o filho ganhando velocidade com pernas e motores próprios.
7- Os hábitos de higiene de Escobar eram mais uma oportunidade para ele exercer sua excentricidade: seus banhos duravam até três horas. Quando escovava os dentes, não levava menos que 45 minutos “e sempre com uma escova para crianças”, lembra o filho. Pablo também nunca ia ao cabelereiro. Ele próprio aparava a ponta do cabelo e em raras ocasiões deixava sua mulher executar o serviço.
8- No seu aniversário de nove anos, Juan ganhou de presente uma caixa com as cartas que o revolucionário Simón Bolivar recebeu de sua amante, a também revolucionária Manuelita Sáenz. “Em minha imaturidade, não teve grande significado”, lembra Juan, que ao longo da vida ganhou do pai várias medalhas originais do militar venezuelano conhecido como “El Libertador” e principal figura histórica na luta pela independência da América Espanhola.
9- Em 1979, quando já eram traficantes bem-sucedidos, Pablo Escobar e seu primo Gustavo Gaviria disputaram a Copa Renault, uma competição de automobilismo profissional que naquele ano aceitava inscrições também de novatos. Como havia outros traficantes participando do evento, Pablo e Gustavo brincavam que o campeonato devia ser chamado de Coca Renault. Ao ser barrado nos exames médicos que indicavam que não tinha saúde para ser um corredor, Pablo subornou os médicos e foi inscrito, terminando a temporada em quarto lugar na classificação geral.
10- Quando completou 11 anos, Juan tinha “quase 30” motos de alta velocidade, triciclos, quadriciclos, kars etc, além de 30 jet-skis. Aos 13, seu pai lhe deu um apartamento com “espelhos no teto, um bar meio futurista e um tapete de zebra”.
11- As toalhas de mesa das propriedades de Pablo eram todas bordadas a mão, em Veneza. A complexidade do trabalho era tanta que as encomendas demoravam até quatro anos para ficarem prontas. Sua mulher, Maria Escobar, adorava festas à fantasia: sempre que os Escobar faziam uma celebração desse tipo, um alfaiate contratado por eles ia até a casa dos convidados dias antes da festa e desenhava uma fantasia para cada um.
Nenhum comentário:
Postar um comentário