Em meio a uma imensa crise econômica, centenas de milhares de pessoas viram no APP Uber uma chance concreta para fugir do desemprego e conseguir renda mensal. Mesmo nesse cenário negativo, alguns foram além e ainda inventaram iniciativas criativas para crescer no ramo. É o caso do motorista gaúcho Marlon Luz, de 37 anos, que mora em São Paulo. Para ele, o que começou apenas como um “bico” virou fonte de negócios para além das corridas diárias.
Enquanto mantinha um emprego na área de programação, viu na Uber oportunidade de complementar a renda, especialmente após o expediente diário. Pouco tempo depois perdeu o emprego e o trabalho no app virou o ganha-pão. Ao perceber o aumento na quantidade de novos motoristas, criou um canal no Youtube para dar dicas para quem entra no ramo.
— Percebi que a quantidade de novos motoristas na plataforma é grande e, quando essas pessoas entram para o aplicativo, é uma nova profissão, que precisa ser conhecida. Decidi, então, gravar os vídeos e colocar no canal, ensinando detalhes do funcionamento do aplicativo e como ganhar dinheiro na Uber — conta.
E a estratégia do empreendedor deu certo. O canal Uber do Marlon já tem quase 363 mil inscritos. E o vídeo de maior sucesso, “Quanto ganha um motorista Uber?”, tem mais de 850 mil visualizações.
Hoje, após quase três anos como motorista profissional, Marlon viu sua renda mensal dar um salto e os negócios se expandiram. Com o canal na internet, o motorista já conseguiu patrocínios, o que faz com que ele faça cada vez menos corridas, conta:
— Minha renda pelo aplicativo fica em torno de R$ 2 mil mensais. Com os patrocínios ganho mais de R$ 5 mil.
E a vontade de crescer não parou no Youtube. Luz acaba de inaugurar seu mais novo empreendimento: o Ponto de Apoio Motorista Top, uma espécie de pit stop para motoristas de aplicativos. O empreendimento fica num contêiner na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo.
— Aqui o motorista pode comprar produtos para o veículo, limpar o carro e descansar — conta ele, que pretende transformar o modelo em franquia ainda esse ano.
Motorista faz até R$ 20 mil por mês
Os casos de motoristas que usaram a Uber como trampolim para fazer negócios não são isolados. De Porto Alegre, no Sul do país, o que começou como complemento de renda também evoluiu para mais um caso de empreendedorismo de sucesso. O motorista Thomaz de Castro Barbosa, de 39 anos, decidiu, em 2016, abandonar o tradicional táxi para migrar para a Uber. Assim como Marlon, de São Paulo, viu na Youtube oportunidade para aumentar a renda mensal.
— Comecei a dirigir pelo aplicativo e comecei a ganhar mais do que quando era taxista. Em uma noite de pouco movimento, resolvi gravar um vídeo e criar um canal. Fez sucesso, e hoje, a página é uma escola para quem quer começar a dirigir.
Chamado de “Escola para Uber”, o canal na internet atrai milhares de motoristas que querem aprender os mistérios de como ganhar dinheiro usando o aplicativo:
— Virei uma espécie de coach para novos motoristas e minha renda saltou de R$ 4 mil para R$ 20 mil mensais, o que inclui palestras, visualizações e patrocínios.
Mercado já movimenta setor de aluguel
A multiplicação de motoristas de Uber (e seus rivais, como 99 e Cabify) criou outro filão de negócios, o de aluguel de carros. No Rio, já há empresas criadas só para atender esse nicho. O empresário Luiz Fernando Nunes, dono da locadora LRF, no Rio, foi um dos que percebeu essa oportunidade. Depois de ser demitido do banco onde trabalhou por 15 anos, pegou parte do dinheiro da indenização e comprou um carro para dirigir.
Pouco tempo depois, decidiu alugar o veículo em um site de classificados online. Foi quando percebeu que o negócio tinha potencial. Uniu-se a dois amigos, juntos investiram R$ 550 mil e abriram a empresa em 2016. O negócio funciona em uma oficina mecânica no Centro do Rio, com a qual a locadora fez uma parceria. Hoje, têm 18 carros disponíveis.
— Fiquei uma semana dirigindo vi que existia esse mercado de aluguel. Tomei muita volta no começo porque não tinha estrutura — conta Nunes, que diz ter uma fila de 100 clientes no sistema que não consegue atender.
Como diferenciais, a empresa aposta em cobrança semanal (junto com o pagamento dos motoristas), dispensa de checagem no SPC e Serasa e pagamento por boleto, sem necessidade de cartão de crédito. Anúncios como o deles são frequentes em um grupo no Facebook com mais de 20 mil pessoas, o que dá a dimensão do tamanho do negócio.
Locadoras oferecem promoção
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (Abla), não há ainda dados sobre o setor, mas o filão de aluguel para motoristas de aplicativos já estimula o segmento.
— Novas empresas surgiram especificamente para isso. É um segmento que utiliza muito o carro, então precisa de uma administração diferenciada na gestão de manutenção do carro — afirma.
Os novos negócios se unem às grandes locadoras, que já têm parceria com os principais aplicativos. Desde pelo menos 2016, as principais plataformas do país — Uber, 99 e Cabify — têm parcerias com as três maiores locadoras de automóveis, que oferecem condições mais vantajosas para os motoristas cadastrados nos serviços. O Uber, por exemplo, tem parcerias com Localiza, Movida e Unidas.
Na Movida, por exemplo, o aluguel mensal parte de R$ 1.299 para motoristas, com franquia de 5 mil quilômetros. Para o público geral, o serviço fica por pelo menos R$ 1.662, segundo simulação no site para um modelo compacto, com ar-condicionado.
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