Estádio do Pacaembu, 25 de janeiro de 2012, final da Copa São Paulo de Juniores, principal torneio brasileiro de categorias de base. Corinthians e Fluminense empatavam em 1 a 1 quando o goleiro titular do time paulista precisou ser substituído com dores, aos 33 minutos do segundo tempo. Diante de quase 40 mil pessoas, Ravi saiu do banco de reservas com uma missão complicada: seriam pouco mais de dez minutos em campo, e qualquer falha poderia selar a perda do título da Copinha. Tranquilo apesar da pressão, o garoto lembra de ter trabalhado pouco naquele tempo interminável... Ainda mais interminável depois que o zagueiro Antônio Carlos balançou as redes do Flu e colocou o Timão em vantagem no placar. Com Ravi no gol, o Corinthians foi campeão da Copa São Paulo de 2012. E o tempo passou.
Zona Leste de São Paulo, algum dia de março de 2016, fim de tarde. Pouco antes de voltar para Jundiaí, cidade onde vive, Ravi nota um chamado do CT Joaquim Grava para uma corrida até a Zona Norte, onde fica a redação do LANCE!. Quatro anos depois de ser campeão da Copinha como titular, ainda que por alguns minutos, da meta do Corinthians, o goleiro voltou ao local onde treinou ao lado de Ronaldo Fenômeno sem calçar suas luvas. Seu novo material de trabalho é um carro prateado munido na parte interna de copos d'água, balinhas, amendoim, revistas e carregador de celular.
Enquanto aguarda um novo clube para seguir a carreira após a saída do Corinthians, Ravi tem equilibrado as contas com uma ferramenta bem atual. Há pouco mais de um mês, ele dirige um carro da Uber pelas ruas de São Paulo.
- O tempo foi passando e a gente sem clube, sem receber. Você acaba precisando de dinheiro, não tem jeito, todo mundo precisa. Eu conheci o Uber no fim do ano passado e vi que dava para ser motorista, mas de início tinha uma burocracia, um cadastro gigante, aí deixei meio de lado. Mas passou um tempo, a situação foi apertando, e eu dei uma olhada de novo. Aí fiz tudo e acertou isso. Estou meio que no começo, aproveitando meu tempo livre, em que não estou treinando e nem na academia, como uma forma de ganhar dinheiro. Por enquanto está dando certo, mas é temporário para eu me manter até aparecer algo - explica Ravi, em entrevista ao L!.
A desconfiança de Ravi não é à toa, pois o Uber ainda é uma novidade no Brasil. O sistema de transporte privado que nasceu em 2009, nos Estados Unidos, chegou ao país só em 2014, e rapidamente ganhou a antipatia dos taxistas tradicionais, que jamais tiveram um concorrente tão forte. Pelo aplicativo do Uber nos dispositivos móveis, o passageiro é localizado geograficamente e solicita um veículo para atendê-lo. Alguns dos benefícios do serviço em relação aos táxis é a inexistência de cobrança extra em horários noturnos ou trocas de cidades, por exemplo. O Uber está cada dia mais popular, e Ravi entrou de cabeça na onda.
- O marketing me fez abrir a cabeça para muita coisa, e o Uber foi uma coisa que revolucionou aqui no Brasil e me chamou atenção nesse lance de transporte. Por toda a repercussão que deu, confusão com taxista, foi uma divulgação. O negócio é tratar a pessoa da melhor forma possível. Cada motorista é dono do seu próprio negócio dentro do Uber, e a gente depende disso, de atender bem para ter boa avaliação e continuar operando. Tudo que eu for fazer eu vou tentar fazer da melhor forma possível, e aprendi isso dentro do Corinthians - cita o goleiro.
Goleiro, sim, porque Ravi não parou de jogar futebol profissionalmente. Ele está apenas sem clube no momento, mas tem chances de acertar o destino nas próximas semanas. Cliente do escritório do empresário Cláudio Guadagno, ele tem conversas avançadas com um clube da Finlândia. Enquanto aguarda a resolução das burocracias envolvendo seu passaporte comunitário e detalhes da transferência, o Uber é a ferramenta que tem mantido as contas em dia.
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