sexta-feira, 23 de julho de 2010

Muricy Ramaho como jogador de futebol

Muricy defendeu na década de 1970 as cores do São Paulo, onde jogou 177 partidas, marcando 26 gols. Atuou como meia, ponta de lança, jogando ao lado de Pedro Rocha e Chicão. Com longos cabelos e futebol refinado, foi saudado pela imprensa paulista como mais um dos sucessores de Pelé. Nesta passagem, foi treinado por nomes como José Poy e Rubens Minelli.
Palmeirense quando criança, em 1965 foi levado por Valdemar Carabina, amigo do pai de Muricy, para o São Paulo. Era tão elogiado quando estava no Infantil que, em 1969, só a sua presença no time do São Paulo que decidiria o campeonato dos dentes-de-leite fez 20 mil pessoas lotar o Estádio Nicolau Alayon, campo do Nacional. Em 1971, com o São Paulo sob o comando de Oswaldo Brandão, treinou pela primeira vez entre os profissionais, mas só fez sua estréia dois anos depois, em 22 de agosto de 1973, em um amistoso contra o União Bandeirante (empate em 0 a 0), depois de alguns meses emprestado ao Pontagrossense. Sua partida seguinte foi também sua primeira partida oficial, em 10 de novembro, no empate em 2 a 2 contra o Coritiba, pelo Campeonato Brasileiro de 1973.
No ano seguinte, não teve muitas chances na equipe, o que o levou a tomar uma "resolução de ano novo". "Agora você vão ver o que vai acontecer", avisava. "Vem aí o Muricy 75." De fato, em 1975 Muricy estourou. Ganhou peso, passando de 64 para 68 quilos, e foi um dos principais jogadores da conquista do Campeonato Paulista de 1975, sendo considerado a maior revelação do torneio, apesar de ter marcado apenas quatro gols, menos até que o volante Chicão. Ao longo de todo o campeonato, ficou fora de três jogos por contusão e de um porque o técnico Poy decidira poupar os titulares. Entretanto, na decisão contra a Portuguesa, Muricy foi expulso ainda no primeiro tempo, justamente quando era o melhor jogador em campo, por uma entrada dura em Dicá logo depois do gol da Portuguesa que eventualmente levaria o jogo para a prorrogação.
"É verdade que Muricy não atingiu Dicá", disse o árbitro Dulcídio Wanderley Boschilia depois do jogo. "Mas a violência do lance exigiu o cartão vermelho." Muricy foi ao vestiário adversário pedir desculpas a Dicá e lá descobriu que não tinha machucado o adversário. "Eu estava pensando que minha falta tinha sido mais dura", admitiu o jogador. "O Dicá fez mais encenação, a dor foi mesmo muito pequena. Como o juiz estava longe, acabou me expulsando." De qualquer maneira, não conseguiu assistir ao resto da partida e chorou muito no vestiário até o fim do jogo, quando foi procurado por seus colegas de time para comemorar. Perdoado também pela torcida, foi carregado e teve seu nome cantado nas comemorações.
Nessa época, o cabelo comprido de Muricy chamava a atenção não só por destoar dos demais como também por ser criticado pelo técnico Poy. O jogador chegou a se afastar dos treinos por dez dias depois de brigar para não cortar o cabelo. Na volta, como marcou gols, resolveu "não cortar nunca mais"."Eu era cabeludo, não rebelde", lembraria Muricy em 2008. "Nunca fui rebelde. Sempre obedeci os técnicos."
Ainda naquele ano, Valdemar Carabina profetizava que Muricy seria o titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1978. O problema é que 1976 foi um mau ano tanto para o meia como para o São Paulo. E 1977, foi pior ainda. Na final do primeiro turno do Campeonato Paulista, em 18 de maio, Muricy torceu o joelho direito em uma de suas primeiras jogadas depois de substituir Pedro Rocha no segundo tempo. Ele sentiu uma dor enorme que já indicava o prognóstico pessimista feito pelo médico do clube logo em seguida. No dia seguinte, falava-se em três meses sem treinar,[11] mas a volta de Muricy aos gramados só se daria mais de um ano depois, em 4 de junho de 1978.
Por causa dessa contusão, ele ficou de fora de toda a campanha do título do Campeonato Brasileiro de 1977, embora tenha ajudado como lhe era possível. Serginho, artilheiro do time, tinha sido suspenso às vésperas da final contra o Atlético-MG e por isso não viajou com a delegação para Belo Horizonte. Mas no dia da partida o presidente do São Paulo, Henri Aidar, ligou para Muricy e pediu que ele fosse à casa de Serginho buscá-lo e levasse-o ao aeroporto, onde pegaria um vôo fretado para a capital mineira, a fim de fazer pressão psicológica sobre os atleticanos, que tentavam escalar o também suspenso Reinaldo. A chegada de Serginho inquietou os adversários, que se decidiram por não escalar seu atacante e entraram nervosos em campo.
Nessa época, muitos já o consideravam acabado para o futebol, mas ele seguia indo ao clube para assistir a treinos e jogos, algo incomum para um jogador contundido. Quando voltou a jogar, ainda tinha medo das jogadas mais duras, e entrou em poucas partidas, nenhuma delas como titular. Não chegou sequer a ser cogitado para a Copa do Mundo prevista por Valdemar. "Essa é a minha maior frustração", confessaria, em 2007, à revista Veja São Paulo. "Era a minha oportunidade", diria, em 2010, ao jornal O Globo. "Faltava um ano, e com certeza eu iria. Não ia ser titular, porque o titular era o meu ídolo Zico, eu ia ser reserva dele. Já estava bom."O primeiro jogo que começou foi só em 10 de dezembro, contra o Corinthians, e só na partida seguinte, contra a Ferroviária, é que atuou durante todos os noventa minutos. Sem conseguir se firmar novamente no time titular, chegou a ser cobiçado pelo Santos, mas o São Paulo pediu alto e não liberou seu passe. "Eles quase não usam o garoto", reclamou um dirigente santista à revista Placar. "Mas na hora de lhe dar uma chance pedem esse dinheirão."
Seu último jogo pelo São Paulo foi em 25 de julho de 1979, pelo Campeonato Paulista, uma derrota por 2 a 0 para o Guarani no Estádio do Pacaembu, em que entrou no segundo tempo. Após deixar o clube, atuou pelo Puebla, do México. Entretanto, teve sua carreira de atleta abreviada devido a uma seqüência de contusões e aposentou-se em 1985, aos 30 anos.

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